quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

MACHADO DE ASSIS

1. DADOS DO ATOR
Joaquim Maria Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu no morro do Livramento, Rio de Janeiro, corte do Império e, depois, capital da República. Filho de um pintor mulato e de uma lavadeira açoriana ficou órfão de ambos muito cedo, sendo criado pela madrasta, Maria Inês, a qual lhe ensinou as primeiras letras.
Mas este mulato de origem humilde, que já na infância começou a apresentar os sintomas de epilepsia e gaguez, tornou-se um dos maiores escritores da Língua Portuguesa de todos os tempos, principalmente por seu afinco autodidata que o fez construir uma vasta cultura literária, bem como por seu talento e sensibilidade incomparáveis.
Machado de Assis foi aprendiz de tipógrafo na adolescência e anos mais tarde, por intermédio do jornalista e escritor Manuel Antonio de Almeida (autor de Memórias de um Sargento de Milícias) começa a trabalhar na redação do Correio Mercantil. Obtendo o reconhecimento de seu talento por parte de grandes escritores da época, o jovem jornalista inicia sua carreira literária aos 25 anos com o livro de poemas “Crisálidas”.
Além de jornalista e escritor, Machado exerce cargos no funcionalismo público e é a carreira burocrática que lhe dá a segurança e a disponibilidade necessárias para entregar-se de forma mais livre à sua vocação ficcional.
Aos trinta anos, casa-se com uma culta senhora portuguesa chamada Carolina Xavier Novais. Com ela, o escritor tem uma vida serena e feliz, não tendo filhos o casal.
Em 1881, Machado lança o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas que marca início do Realismo no Brasil e o começo da fase de maturidade do autor.
Machado de Assis produziu em todas as áreas literárias: conto, crônica, poesia, teatro, romance, crítica literária... Foi também fundador da Academia Brasileira de Letras, sendo seu primeiro e vitalício presidente.
Em 1908, lança seu último romance Memorial de Aires, após a morte de sua esposa D. Carolina. Esta o inspirou a criar D. Carmo, personagem importante do seu último romance. Machado de Assis morre neste mesmo ano, cercado do reconhecimento e da admiração da crítica e do público.

2. CARACTERÍSTICAS DO AUTOR
FASES MACHADIANAS
1a Fase (Romântica): a primeira fase apresenta um Machado preso aos moldes estéticos do Romantismo. São dessa fase:
Crisálidas (poemas)
Contos Fluminenses (1870)
Ressurreição (1872)
A Mão e a Luva (1874)
Helena (1876)
Iaiá Garcia.

2a Fase (Realista): é nesta fase que se encontram as obras mais significativas de Machado de Assis, como Memórias Póstumas... , Dom Casmurro, Quincas Borba, Esaú e Jacó, Memorial de Aires e Papéis avulsos (contos).

CARACTERÍSTICAS DA FASE REALISTA
 CRÍTICA SOCIAL: Machado faz em seus livros uma crítica contundente à sociedade burguesa do século XIX. Sonda com ironia e acidez as relações interpessoais, baseadas em interesses mesquinhos. São temas recorrentes na obra do escritor:
 o adultério; a hipocrisia; a loucura; a ganância e o egoísmo.

 CETICISMO E PESSIMISMO: em relação à condição humana, Machado revela profunda descrença, exemplo maior dessa visão é o capítulo que encerra Memórias Póstumas de Brás Cubas, o famoso capítulo “Das Negativas”, no qual o escritor diz que a vantagem que teve sobre os reveses que encontrou em vida é a de não ter deixado filhos, não passando, assim, a ninguém o legado da sua miséria.

 METALINGUAGEM: o autor está constantemente refletindo sobre o fazer literário, desenvolvendo uma peculiar característica de conversar com o leitor entremeio às narrativas, bem como rechear suas obras de intertextualidade (textos que se cruzam dentro da narrativa).

 SONDAGEM PSICOLÓGICA DAS PERSONAGENS: para Machado de Assis, a atenção maior não recai sobre os fatos, sobre a ação narrativa, sobre a exterioridade, mas, sobre o que estes fatores desencadeiam no interior das personagens. A ênfase é dada, sobretudo, às situações psicomorais vividas por eles.

 IRONIA E HUMOR: apesar de apresentar uma visão extremamente cética da realidade, o escritor não deixa de fazê-lo com um humor refinado e uma ironia sagaz.

Contos Fluminenses, de Machado de Assis
Primeiro volume de contos de Machado de Assis, Contos Fluminenses está relacionado ao Rio de Janeiro no período imperial. O conto mais famoso é "Miss Dollar". A maioria das narrativas, pela sua extensão, trama e estrutura, podem ser consideradas como novelas.

3. CARACTERÍSTICAS DA OBRA
A obra Contos Fluminenses faz parte da primeira fase de Machado de Assis, que estava preso aos moldes estéticos do Romantismo. Os contos machadianos considerados românticos apresentam uma característica comum: os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos leitores por parte do narrador, cheios de considerações sobre os comportamentos. Suas personagens não são tão lineares como as dos maiores românticos: elas têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não transparentes, são interesseiras. Mas a estrutura narrativa de Machado, nessa fase, ainda é linear, isto é, as narrativas têm começo, meio e fim demarcados.
Nessa fase romântica, a angústia oculta ou patente das personagens é determinada pela necessidade de obtenção de status, quer pela aquisição de patrimônio, quer pela consecução de um matrimônio com parceiro mais abonado. A mentira é punida ou desmascarada. Há nisso um laivo de moralismo romântico, na pregação de casos exemplares.
A crítica considera apenas medianos os contos desse livro. De qualquer forma, já aparecem as características marcantes do estilo machadiano: a conversa com o leitor; a ironia; o estudo da alma feminina. Esboçam, em finos retratos femininos, a força do papel social como segunda e imposta natureza e as pressões que impelem os personagens a mudar de status ou classe social.
O conto "Miss Dollar" conta a história de uma viúva cética quanto ao amor de seus pretendentes por causa da convivência com o falecido marido, interessado apenas em seu dinheiro. Uma cadelinha chamada Miss Dollar foge de casa e é encontrada por Mendonça, um jovem médico colecionador de cachorros. Ao ver o anúncio dos donos da cachorra, decide devolvê-la. Conhece assim Margarida, uma viúva ainda moça por quem se apaixona. A moça parece não corresponder aos seus sentimentos. Mendonça, depois de algum tempo, resolve mandar-lhe uma carta a qual é respondida secamente. Fica muito triste e pensa em desistir da bela moça até que D. Antônia, tia de Margarida o procura para contar-lhe que a sobrinha o ama e que o evita por medo de que ele seja apenas mais um golpista, como foi seu finado marido e todos os outros pretendentes que surgiram depois. Ela pede que ele vá vê-la e o inevitável, segundo Margarida, acontece. Casam-se. No início ela desconfia de suas intenções reais, mas percebe, com o tempo, que seu amor é sincero. E, para terminar a história, Miss Dollar, responsável pela união de Margarida e Mendonça, é atropelada e morre.
Em "O segredo de Augusta", Vasconcelos resolve casar sua filha de apenas 15 anos ao descobrir ter perdido grande parte de sua fortuna. Juntamente com "Miss Dollar", antecipa a temática de "A mão e a luva": o dinheiro como móvel do casamento.
O tema da traição, suposta ou real, antes de aparecer em D. Casmurro, já estava nos contos "A mulher de preto" e "Confissões de uma viúva moça".
O casamento por interesse é constante na obra de Machado de Assis, principalmente em sua fase romântica. Contos Fluminenses traz outros cinco contos. Entre eles, "A mulher de preto", "Linha reta e linha curva" e "Confissões de uma viúva moça", carta de uma mulher enganada por um sedutor barato.

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/c/contos_fluminenses

3. RESUMO DOS ENREDOS
MISS DOLAR
Miss Dólar é uma cadelinha que foi encontrada perdida numa noite pelo Dr. Mendonça, um médico, de 34 anos, colecionador de cães. Dr. Mendonça não exercia mais a profissão, trabalhava apenas como amador. Durante uma epidemia na capital, Dr. Mendonça inventou um elixir muito eficaz contra a doença, o que lhe rendeu um bom par de contos de réis.
Margarida, dona da cadelinha, publicou um anúncio no jornal oferecendo 200 mil réis como recompensa a quem encontrasse e devolvesse a cadelinha, que tinha no pescoço uma coleira fechada por um cadeado com a seguinte inscrição: De tout mon coeur.
O médico ao ler o jornal, reconheceu a cadelinha e a devolveu para sua dona, porém não aceitou a recompensa. Ao conhecer Margarida sente-se atraído por ela, principalmente por que ela tinha olhos verdes, coisa nunca vista por Mendonça, porém tinha receios, pois comparava os olhos verdes ao mar, ambos turbulentos. Chagou a passar em frente a casa dela algumas vezes, mas não a avistando, voltou a seus cães.
Numa tarde, enquanto passeava com seu amigo Andrade, Mendonça encontrou Margarida com sua tia, D. Antônia, numa loja. Andrade, que já as conhecia, apresentou oficialmente o amigo e foram convidados a visitá-las, o que aconteceu no dia seguinte e as visitas se tornaram freqüentes.
Mendonça confessa a Andrade o seu interesse pela moça, ao que o amigo conta que a moça era viúva e já havia rejeitado 5 casamentos. O médico passa então a cortejar assiduamente Margarida, que o desdenha, mas o trata com meiguice.
Passados 3 meses das visitas constantes, Mendonça escreve uma carta pedindo explicações do porquê de tanto desdém. Ao contar a Andrade da carta, este diz que ele havia estragado tudo e conta a Mendonça que ele também tinha enviado carta à moça, que não respondeu, apenas devolveu a carta; Andrade era um dos cinco casamentos rejeitados. Porém Margarida responde à carta com duas frases: “Perdôo-lhe tudo; não lhe perdoarei se me escrever outra vez. A minha esquivança não tem nenhuma causa, é questão de temperamento.”
Mendonça escreve outra carta que é devolvida sem resposta, depois disso deixa de freqüentar a casa. Alegando trabalhos extraordinários, passado 1 mês e meio volta à casa e fica sabendo que Margarida quer ir morar na roça por 2 meses e será acompanhada pela tia.
Numa noite, antes da partida, Mendonça passa em frente a casa de Margarida e resolve entrar em seu quarto sem ser visto. Margarida ao vê-lo, chora e pede que saia, no dia seguinte a moça acorda adoentada. A tia Antônia faz uma visita ao médico dizendo saber o motivo da doença da sobrinha: que estava perdidamente apaixonada pelo doutor. A tia conta que tinha achado um diário da moça no qual estava escrito que tinha sido infeliz no casamento, pois ela era rica e seu marido só se preocupava em esbanjar sua fortuna, desde então via com desconfiança qualquer homem que se aproximasse.
Três dias depois, já recuperada, Margarida escreve a Mendonça pedindo que vá visitá-la. Ao chegar, ela diz ao médico que devem se casar, pois não queria ficar mal falada na cidade por causa do incidente da visita noturna. Mendonça aceita, mas no dia do noivado diz que será só um amigo, pois ela não o amava, se casaria apenas para salvar a reputação da moça. Até o dia do casamento Margarida se convence do amor verdadeiro de Mendonça e deixa de desconfiar do interesse apenas pelo dinheiro. Andrade e tia Antônia foram padrinhos da cerimônia simples e o casal viveu feliz para sempre.
Miss Dólar saindo um dia à rua é atropelada. Foi enterrada numa chácara, à sombra de uma laranjeira, com uma lápide escrita: A Miss Dólar.

LUIS SOARES
Luis Soares é um rapaz solteiro, indiferente à poesia, política e religião, troca o dia pela noite, não querendo se sujeitar às leis impostas pela sociedade. Vive de esbanjar dinheiro que a muito custo o pai economizou para deixar-lhe de herança.
Um dia recebe uma carta do banco que dizia estar falido. Acordou pobre e pensava em suicídio, mas resolve pedir conselho a um amigo, Pires, que sugere que ele vá a casa do tio a fim de se tornar seu herdeiro universal.
Seu tio, o Major Luis da Cunha Vilela, era um homem das antigas, reclamava da modernidade, prezava os bons costumes e era patriarcal. Após ouvir Soares, suas desculpas, seu arrependimento e sua vontade de trabalhar, viver como um homem digno e criar juízo, aceita o sobrinho como um filho pródigo e entrega-lhe uma carta de recomendações para um emprego no setor público, endereçada ao ministro.
Em um mês, Soares já está empregado e ganhando muito bem. Conta ao tio que sonhara com uma cadeira no parlamento e, seguindo o conselho do tio, se dedica ao trabalho e ao estudo. Cinco meses se passaram e os chefes da repartição não tinham uma queixa contra ele, era muito dedicado.
Prima Adelaide, morava com o tio desde a morte de seu pai, era uma moça muito bela, com 24 anos e no passado era apaixonada por Soares. Porém ficou sabendo das palavras do primo quando um amigo tocou no assunto casamento: “Quem tem a minha fortuna não se casa; mas se se casa é sempre com quem tenha mais. Os bens de Adelaide são a quinta parte dos meus; para ela é negócio da China; para mim é mau negócio.” Desde então Adelaide, que recebera de herança 30 contos, trata o primo com desprezo, porém com a convivência o afeto começa a ressurgir, ficando ela entre o orgulho e o amor. O tio percebendo a paixão da moça, propõe casamento ao sobrinho. Soares diz que não a ama, mas temendo comprometer o futuro da herança aceita, porém não para já, que um dia se casariam.
Um dia chega da Bahia um amigo do tio, Anselmo Barroso de Vasconcelos. Ele havia sido amigo fiel do pai de Adelaide, que morreu em seus braços. O pai da moça era um velho excêntrico e antes de morrer, escreveu uma carta e pediu ao amigo que fosse aberta e lida aos seus parentes na ocasião dos 10 anos de sua morte. Na carta dizia que tinha deixado uma fortuna de 300 contos para o amigo entregar à filha. Se a moça fosse casada, apenas entregar-lhe; se não fosse, para receber a herança deveria se casar com o filho de sua irmã Luiza, o sobrinho Luis Soares. Se ela não aceitasse a condição, que o amigo ficasse com o dinheiro para si.
Soares vê-se então empenhado em conquistar Adelaide, que o despreza cada vez mais. Envia-lhe cartas, que são devolvidas. Num lapso de desespero se ajoelha diante da prima, pede perdão, faz declarações e por fim diz que havia pensado em suicídio. Adelaide lhe diz que “trezentos contos é muito dinheiro para comprar um miserável”, ignora-o e vai contar ao tio da mudança de comportamento do primo e que desistia do casamento.
Adelaide conta ao amigo de seu pai sua resolução. Este antes de viajar, vai à casa de Soares certificar-se e sai convencido que a moça tinha razão. Ao se despedir da família, Anselmo sugere uma visita à Europa e diz que não precisava do dinheiro de Adelaide entregando toda a fortuna à moça. Dias depois a família viaja para a Europa, mas exclui Soares da viagem. Abandonado e pobre, uma noite Soares se suicida.

A MULHER DE PRETO
O médico Dr. Estevão Soares e o deputado Menezes se conheceram no teatro apresentados por um amigo em comum. Só dois meses depois os dois se reencontraram na casa de um ministro de Estado, como chovia muito, o deputado ofereceu uma carona com a promessa do doutor de visitá-lo no dia seguinte o que aconteceu.
Dr. Estevão tinha 24 anos, aos 20 perdeu os pais. Estudava muito e lia bastante. Via as mulheres que conhecia como um ornamento de salão, exigia a perfeição intelectual e moral, por isso nunca se apaixonara, nem pensava em casamento.
Os dois se visitavam com freqüência e no fim de 1 mês eram velhos amigos. Numa noite, quando estavam no teatro, Estevão nota uma mulher de preto em outro camarote e pergunta ao amigo se ele a conhecia, a resposta foi não; mas o médico não deixou de perceber que de vez em quando os dois se olhavam. Na saída o médico sentiu que Menezes se esquivava da mulher apressando o passo, porém nada comentou.
Estevão foi a um baile na casa de um velho amigo de seu pai e conheceu Madalena, uma viúva de 34 anos e apaixonou-se perdidamente. No dia seguinte recebeu dela um convite para tomar chá em sua casa. Menezes percebendo a agitação do amigo pergunta-lhe sobre o motivo, e este conta sobre a linda mulher que conhecera.
No dia marcado foi à casa de Madalena que estava acompanhada do filho e saiu de lá mais apaixonado ainda. As visitas se tornaram regulares e assíduas. O médico pediu se podia apresentar-lhe o amigo Menezes, ela dissera que sim, mas uma outra hora.
Estevão tenta escrever a Madalena diversas cartas, porém rasga todas e decide falar pessoalmente de seu amor pela senhora. Ao chegar à casa e antes que começasse a se declarar, Madalena o interrompe e diz que precisa contar um segredo. Era ela vestida de preto no teatro outro dia. Ela não era viúva, era esposa de seu amigo Menezes. Ele tinha se separado dela acusando-a de traição. Porém no dia anterior recebeu uma carta de uma amiga em seu leito de morte que pedia que inutilizasse o retrato e a carta, única prova da traição de Madalena, ou que devolvesse ao homem que lhe dera. O desespero de Estevão é maior quando ela pede que ele sirva de mediador entre o marido e ela, ajudando a reconstituir a família.
Estevão cumpre a promessa e vai conversar com o amigo, relata o episódio e a inocência da esposa. Os dois reatam o casamento e Estevão prepara as malas de partida para Minas Gerais. Menezes larga a política e parte para o norte com sua esposa.

O SEGREDO DE AUGUSTA
Batista, Vasconcelos e Gomes eram a trindade do prazer e da dissipação. Eram ricos e viviam de esbanjar a fortuna em noitadas. Batista era solteiro. Vasconcelos era casado com Augusta (vaidosa, que o ajudava a gastar a fortuna) e tinha uma filha de 15 anos, Adelaide. Gomes era solteiro também, mas há um mês havia mudado de comportamento tentando se regenerar por que se dizia apaixonado e pretendia se casar. Lourenço era o irmão de Vasconcelos que tinha como incumbência fazer os desejos de Augusta, acompanhando-a em bailes, reuniões sociais e às compras.
No mesmo dia em que Gomes confessa a Vasconcelos que a mulher por quem está apaixonado é Adelaide, sua filha, e a pede em casamento, Vasconcelos recebe a visita de um credor insistente e ameaçador, fazendo com que reflita nos seus gastos. Ao certificar-se da pobreza certa, Vasconcelos vê de bom grado o casamento de sua filha com Gomes, pois este era rico.
O pai conta à filha do interesse de Gomes em desposá-la, mas a menina diz não querer casar-se. Vasconcelos impõe o casamento à filha e a menina cai em prantos. Quando o tio Lourenço chega, vê que ela está com os olhos vermelhos de chorar e ao perguntar-lhe o que havia acontecido ela relata a cena com o pai. O tio a tranqüiliza prometendo que ela não se casará. Em seguida procura o irmão tentando convencê-lo a não sacrificar a filha, mas Vasconcelos mostra-se irredutível e o deixa falando sozinho.
Passados alguns dias, Vasconcelos busca em Augusta apoio para sua decisão e recebe um não como resposta. Ele confessa que estão em ruínas, quase falidos e que esta é a única solução para reconstruir a fortuna, mas a esposa diz que Adelaide ainda é criança demais e sua resposta final é não, mesmo tendo que viver na pobreza e o deixa falando sozinho.
Essa atitude de Augusta levanta suspeitas em Vasconcelos, que pensa que a mulher lhe fora infiel com o amigo Gomes. Ao contar ao irmão dessa suspeita, o irmão diz que está totalmente enganado, que Gomes está falido e propôs casamento pensando na fortuna de Vasconcelos. Resolvem então fazer um teste com Gomes, contando-lhe da falência e esperando a reação dele. Gomes ao ouvir se assusta, mas diz que aceita a menina mesmo sem herança, apenas pediu um tempo para que se restituísse financeiramente, pois também estava falido, e que depois viria buscá-la. O pai então concorda.
Ao passar pela sala, ouve uma conversa entre a esposa e uma amiga e descobre o segredo de Augusta, o motivo da oposição ao casamento da filha: a idéia de ser avó era terrível à sua beleza e vaidade. Aliviado Vasconcelos manda uma carta a Gomes dizendo que a filha não queria se casar. Gomes recomeça sua busca por uma herdeira rica que o queira como marido.

CONFISSÕES DE UMA VIÚVA
Eugênia é uma viúva que há 2 anos deixou a corte para residir em Petrópolis. Antes de retornar, resolve escrever uma seqüência de 7 cartas, uma por semana, à sua amiga Carlota relatando o motivo de deixar a corte, com a promessa de 8 dias após a última carta ir se encontrar com a amiga.
Eugênia então conta como conheceu um homem, chamado Emílio, que tinha se tornado amigo de seu marido para freqüentar a casa e cortejá-la. Emílio ia a reuniões em casa de Eugênia e seu marido, juntos freqüentavam o teatro, faziam passeios, conquistando a confiança do marido, dos amigos e aos poucos conquistando o coração de Eugênia, que até então lutava com todas as forças da razão para não se apaixonar.
Quando se viu apaixonada, deixou-se levar pelas juras de amor e pela embriagues que esse sentimento novo lhe causava, dizia que nunca na vida tinha amado até aquele momento. Emílio chegou a propor que fugissem a fim de viver esse amor que era reprimido, o que assustou Eugênia, mas balançou seu coração.
Na tarde que Eugênia indagava Emílio sobre como seria se ela fugisse com ele, se ele não jogaria na sua cara essa atitude ou se a olharia com desprezo depois disso, seu marido chegava mais cedo do trabalho trazido por amigos, tinha tido um ataque no escritório. Oito dias após, havia sido desenganado pelos médicos, dias depois faleceu.
Emílio se pôs ao lado de Eugênia apoiando e consolando a viúva. Após 4 meses, as visitas se tornaram escassas, até que um dia soube por amigos que Emílio iria partir. Escreveu-lhe uma carta pedindo que se explicasse pessoalmente. Emílio foi vê-la e disse que a viagem seria a negócio e que voltaria logo, a partida seria daí a 8 dias. Passados 4 dias Eugênia recebe uma carta de Emílio dizendo que tinha mentido, iria partir já e que não voltaria, disse também que era homem de hábitos opostos ao casamento.

FREI SIMÃO
Simão era um rapaz que morava com o pai, a mãe e uma prima órfã, Helena. Como não pode seguir a carreira das letras, foi obrigado a trabalhar no comércio de seu pai.
Helena e Simão, que cresceram juntos, se apaixonaram e faziam planos futuros de casamento. Os pais ao saberem do romance, decidiram enviar Simão à casa de um amigo com a desculpa de negócios, cabendo ao amigo entretê-lo o máximo de tempo possível. Contavam que com o tempo essa paixão acabasse, pois não queriam ver o filho casado com Helena, órfã e sem dote.
Os namorados, mesmo à distância, deram um jeito de manter-se em contato por cartas, renovando sempre as juras de amor um ao outro. Ao serem descobertos, o pai de Simão resolve retirar da casa toda pena, tinta e papel que havia, mantendo extrema vigilância sobre Helena.
As cartas de Helena pararam de chegar, depois de um tempo Simão recebe carta de seu pai contando que a prima havia falecido, mas pede que o rapaz retorne ao lar e se case com a filha do conselheiro. O rapaz responde ao pai que vai dedicar sua vida a Deus e se recolhe no convento dos Beneditinos.
Após ordenado padre, Simão foi enviado em missões à província natal. Faz uma visita aos pais e se dirige ao interior, numa vila onde começaria a missão. Durante sua pregação entra um casal e se assenta para ouvir o sermão, de repente ouve-se um grito da senhora que acabara de chegar e em seguida desmaia. Simão se aproxima do tumulto e vê o rosto da desmaiada: era Helena.
O sermão continua sem nexo, um verdadeiro delírio, que dura alguns dias. Após cuidados médicos, se retira novamente ao convento. Dois meses depois Helena morre.
No convento, o frei escolheu o claustro e assim viveu por oito anos. Morreu com 38 anos, mas com aparência de 50. Suas últimas palavras foram: “Morro odiando a humanidade!”
A cela de Frei Simão de Santa Águeda esteve muito tempo fechada. Só foi aberta algum tempo depois e foi ocupada por um velho que teve a esmola e a permissão do abade para acabar seus dias na convivência dos médicos da alma. Era o pai de Simão. A mãe havia morrido.

LINHA RETA E LINHA CURVA
Azevedo e Adelaide eram casados há 3 meses e ainda desfrutavam da felicidade da lua-de-mel quando receberam a visita de um antigo amigo, Tito, que atendendo às insistências do casal, se hospedou em sua casa.
Tito tinha 29 anos, viajara o mundo, era conhecedor e apreciador de boa literatura e boa música, sabia contar histórias, sempre alegre conquistava a todos que conhecia. Porém era o tipo de homem avesso à felicidade das paixões e do casamento. Ao ser indagado por Adelaide o motivo desse repúdio, contou-lhe que uma vez viu uma rapariga em um baile e que no dia seguinte, completamente apaixonado, a pede em casamento. A moça responde por escrito que era um tolo e que deixasse daquilo. Desde então nunca mais amou.
Emília e Diogo eram amigos do casal em questão (Emília era viúva e Diogo tentava conquistá-la) e visitam os amigos no mesmo dia em que Tito chegara. Após as apresentações e durante uma conversa, Tito diz que prefere uma partida de voltarete ao amor. Emília e Adelaide sentem-se abaixo da dama de copas e resolvem que Tito merece um castigo. Tratam então de armar um plano para fazer Tito cair de amores pela viúva e depois ser repudiado, para vingar o sexo feminino de tamanha infâmia.
Depois de sucessões de encontros, conversas, insinuações e usadas todas as armas sem obter sucesso, Emília acaba se apaixonando por Tito e resolve deixar Petrópolis.
Antes da viagem, manda uma carta a Tito dizendo que ele era vencedor do jogo a que se propuseram, que estava apaixonada e que ele estava vingado da desfeita que ela havia feito tempos atrás quando ele a pediu em casamento.
Em seguida, Emília vai à casa da amiga e confessa seu amor por Tito, conta-lhe que ela era a moça que tinha repudiado o rapaz certa ocasião fazendo com que nunca mais amasse.
Tito, que ouvia a confissão escondido, entra nesse instante, pede perdão e explica que sabia que um dia a encontraria, queria apenas se fazer desejado por ela, e estendendo a mão à viúva pergunta se aceitava sua mão de esposo. Eles se casaram e viveram felizes para sempre.

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